Apresentação
Há mais de dois séculos, houve um dos fenômenos culturais mais ricos da história alemã, o chamado “Primeiro Romantismo Alemão”, marcado por uma profunda interação entre homens e mulheres dos mais diversos ofícios: filosofia, poesia, tradução, drama, teologia, filologia, ciência natural e inspeção de minas. Pensadores e pensadoras passaram a desenvolver projetos os mais diversos, unidos no que ficou chamado como Círculo de Jena, composto de Friedrich von Hardenberg (vulgo Novalis); Friedrich W. J. Schelling; Caroline Schelling; Dorothea von Schlegel, Friedrich e August Schlegel; F. D. E. Schleiermacher, entre outros.
As investigações intelectuais desses pensadores foram das mais diversas, desde a reflexão sobre a natureza da filosofia, com inspiração forte em Fichte, mas também em Plotino, Kant, e mesmo no ceticismo antigo e moderno. Essas reflexões desembocam tanto na busca pela totalidade (ou incondicionado, absoluto, razão) quanto em críticas ao sistema, na valorização da contingência, e na escrita em fragmentos. Os românticos pensaram não só em que consiste a filosofia, mas também na literatura e em sua crítica, propondo algumas vezes fusão entre os dois campos. Em outros momentos, pensaram no próprio mundo físico como uma espécie de livro, portador de uma linguagem secreta, cifrada, cuja decifração cabe ao poeta, ao místico e ao filósofo. Essa ideia é tanto uma herança do filósofo-poeta Friedrich Schiller, em suas Cartas filosóficas de 1786, quanto da tradição teosófica, da qual Schiller é devedor, antes de seu debruçar-se sobre a obra de Immanuel Kant. A natureza foi buscada por vias místicas, poéticas, filosóficas, e também científicas, destacando-se Hardenberg, Schelling e August Schlegel neste ponto, em suas investigações sobre magnetismo, processos químicos e eletricidade, e também sobre fisiologia.
As diversas abordagens propostas à filosofia, à literatura e à natureza nos convidam a pensar que, embora algumas propostas dos românticos possam ser datadas ou mesmo obscuras, o espírito interdisciplinar de suas investigações, norteado pelos ideais de sinfilosofia, fazer filosofia junto, e de simpráxis, atuar conjuntamente, é atual e pode nos ensinar bastante. Inclusive, a crítica ao dualismo e ao subjetivismo moderno, recorrente em pensadores como Schelling e Hardenberg/Novalis, mostra-se extremamente valiosa para o pensamento ecológico, como já notaram Hans Jonas e Vittorio Hösle. Todavia, um elemento mais temerário no romantismo é a exaltação do sentimento religioso, que pode trazer graves consequências sócio-políticas, como o fundamentalismo. Dessa forma, a proposta do Congresso é não só aprender sobre o primeiro romantismo alemão, mas aprender com o primeiro romantismo alemão, celebrando os 250 anos do nascimento de Novalis (1772-1801).
Acesso em: 04 Ago. 2022.